11.Mar.05
A fome no mundo (2) O sofisma da Globalização
Um dos argumentos predilectos dos intelectuais de Esquerda para justificar a fome no mundo prende-se com o fenómeno da globalização, ou seja, com a abolição de fronteiras para as mercadorias. A globalização causa a pobreza dos países do Terceiro Mundo, dizem, e a pobreza traz a fome.
Antes de poder avaliar a justeza do argumento convém explicar qual o mecanismo pelo qual a globalização pode travar o desenvolvimento dos países pobres. O mecanismo é o seguinte: Uma indústria de um país desenvolvido, dispondo de moderna maquinaria e produzindo em série, poderá naturalmente produzir o mesmo produto a custos mais baixos que uma empresa de um país subdesenvolvido em que a produção seja efectuada manualmente ou com instrumentos básicos. Se a essa indústria do país desenvolvido for permitida a colocação dos seus produtos em todo o mundo (nomeadamente nos países subdesenvolvidos) através da eliminação de entraves à livre circulação de mercadorias (globalização), as empresas dos países pobres que produzem os mesmos produtos não terão mercado e serão forçadas a encerrar. Este é um argumento válido e inquestionável.
Esquecem porém os mesmos intelectuais, voluntária ou involuntariamente, o reverso da medalha. Todos os produtos cuja manufacturação requeira mão de obra intensiva são produzidos a mais baixo custo nos países subdesenvolvidos. A colocação desses produtos nos mercados europeu e mundial ditará o encerramento das empresas que se dediquem à produção dos mesmos produtos nos países desenvolvidos. Um bom exemplo disso são os sectores do calçado e do têxtil, cujas fábricas nos países desenvolvidos quase todas encerraram já devido à concorrência dos países com mão de obra mais barata. A título de exemplo, as fábricas da Nike no sudoeste asiático pagam às suas operárias de 16 anos o mesmo salário que recebe um médico ou um professor universitário, o que permite a muitas famílias fugir à fome e à miséria. Os países onde estas fábricas se encontram instaladas não precisam sequer de efectuar qualquer investimento, pois o dinheiro investido é proveniente dos países desenvolvidos.
Para muitos economistas, a globalização constitui mesmo uma oportunidade de ouro para que os países subdesenvolvidos possam recuperar o seu atraso, opinião subscrita pelo bloquista Miguel Portas. Aliás, a posição do BE sobre este assunto é muito peculiar: Nos dias pares são a favor, nos dias ímpares são contra.
Concluindo, a globalização não pode ser vista como sendo causa de pobreza nos países subdesenvolvidos, pois as suas vantagens compensam o seus inconvenientes. De qualquer forma, os países subdesenvolvidos poderão sempre encerrar as suas fronteiras às mercadorias estrangeiras se considerarem que tal encerramento como vantajoso. A globalização não é justificação.