Para quem luta pelo direito à diferença, não há nada como exercer esse direito. Foi o que fez Ana Drago hoje no parlamento. Hoje, a Ana foi mais que Drago. Foi a menina reguila no meio de adultos sérios, foi a pequena ditadora estalinista no meio de democratas (com excepção dos seus colegas de bancada e dos vizinhos do PCP), foi a senhora que usa bigode.
A discussão iniciou-se quando Nuno Melo (CDS-PP) anunciou que a sua bancada iria propor a alteração da idade para efeitos de inimputabilidade e afirmou a necessidade de censurar os criminosos e louvar a polícia. Ana Drago, talvez distraída a pensar nas suas barbies, não se apercebeu que não houvera qualquer menção à origem étnica dos criminosos e ripostou sacando a sua cassete da xenofobia. Foi um golo na própria baliza, diga-se, pois ao faze-lo foi ela própria quem deixou implícito que os jovens africanos (ou outras minorias étnicas) são o principal motor da criminalidade em Portugal.

O estilo estalinista de Ana Drago, uma diferente entre iguais.
Ao melhor estilo estalinista, a dirigente bloquista afirmou ainda que as afirmações de Nuno Melo são uma vergonha para esta câmara e para a democracia. De facto, fazer uso do direito de opinião é uma vergonha para o conceito de democracia de Ana Drago. Na verdadeira democracia, aquela que Ana Drago defende, o partido é detentor da verdade absoluta e quem cometa o delito de opinião tem direito a bilhete só de ida para a Sibéria.
Quem determina o que é uma vergonha é a Ana Drago e quejandos, ponto final.
O ponto mais alto (ainda mais alto) da intervenção de Ana Drago foi quando ela afirmou, e passo a citar o que os senhores fizeram aqui é dizer que há duas e duas únicas soluções. Continuando a citar, ou aceitamos que a polícia (...) possa correr à bastonada quem é culpado, quem nem é culpado, ou então iremos encarcerar todos, ou talvez expulsar. É verdade que uma socióloga não tem forçosamente que ser uma expert em matemática, mas convenhamos que contar até três também não é particularmente difícil.
Pelo lado dos criminosos alinhou também o saudosista de Estaline, António Filipe, do PCP. Para António Filipe, medidas de combate à criminalidade são o discurso da demagogia e da intolerância. Quanto à demagogia manifestamente não sabe o significado da palavra e portanto está perdoado. Mas quanto à tolerância, ficamos a saber que para o PCP, a criminalidade, como o arrastão de dia 10 ou o assassinato do jovem Mário Lopes no dia seguinte às mãos de um gang do Kacem, deve ser tolerada, até porque caso contrário há xenofobia.
Enfim, quando os dirigentes políticos são cúmplices dos criminosos, não há medidas contra a criminalidade que valham.
Ouvir debate completo em:
http://www.tsf.pt/online/portugal/interior.asp?id_artigo=TSF162138
De Pedro Romano a 17 de Junho de 2005 às 15:43
Meu caro, estou plenamente de acordo.
Há, hoje em dia, um "discurso interdito" na nossa socieade, segundo o qual não se pode falar de crime (especialmente aquele que é perpetuado por minorias étnicas) que faz com que o mesmo tenda ser cada vez mais desculpabilizado.
Ele é a cultura, ele é a sociedade que oprime as minorias, ele é uma infinidade de outras coisas sem pés bem cabeça.
Isto, aliado ao facto das polícias serem vistas, hoje em dia, como um elemento que regula a sociedade através da força (o polícia é mais facilmente condenado que o criminoso) tem vindo a fazer com que o crime aumente de forma exponencial).
Mas, pior que tudo, não se vislumbra no horizonte algo capaz de mudar esta situação (não vi em nenhum dos programas eleitorais qualquer medida contra o aumento dos índices criminais; decerto que mais não se esperava do PCP e BE mas acho que PS e especialmente PSD e PP deviam ter tido a audácia - ou coragem - de avançar com propostas).
Enfim, cumprimentos pelas análises lúcidas e escrita bem estruturada (sem, contudo, caíres nos excessos que por outros lados se vê).
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