No concelho da Amadora vive-se uma verdadeira guerra civil entre gangs de criminosos por um lado e a polícia por outro. Os textos entre aspas foram retirados dos jornais.
18 de Fevereiro 2005:
- O agente Irineu Dinis é assassinado na Cova da Moura com armas de guerra.
A morte é a única certeza que fica da madrugada de ontem na Cova da Moura. O agente principal da PSP Ireneu Dinis, de 33 anos, foi abatido com 22 tiros, seis dos quais na cabeça, quando fazia uma patrulha de jipe igual a tantas outras nas ruas estreitas daquele bairro da Amadora, nos arredores de Lisboa.
Nas horas que seguiram ao assassínio cruel do agente Ireneu Dinis, de 33 anos, os investigadores recolheram no local do crime para cima de três dezenas de cápsulas de balas de calibre de guerra (9mm)
A morte de um agente da PSP na Cova da Moura é o culminar de uma série de incidentes que foram noticiados pelo CM no último ano. Polícias recebidos por matilhas violentas e que por isso batem em retirada até ao limite do bairro problemático Cova da Moura, 6 de Maio, Fontainhas, tanto faz.
A Grande Lisboa tem já várias bolsas onde milhares de pessoas vivem à margem das leis do Estado. Onde a ordem pública precária é garantida apenas pelo equilíbrio entre gangs. Cada vez mais violentos, bem armados, jovens.
19 de Fevereiro 2005:
- Polícias exigem armas e melhor equipamento. O Bloco de Esquerda defende que os polícias devem andar desarmados.
Os tripulantes dos carros-patrulha de todas as esquadras da Divisão da Amadora ficaram, por ordem superior, sem as pistolas-metralhadoras Beretta que utilizavam para ripostarem a ataques a tiro. Para além das pistolas pessoais, a única coisa que dispomos agora é de gás-pimenta, shot-guns com munições de borracha, disse a mesma fonte. Se o poder de fogo é diminuto, a protecção contra ataques com armas de fogo é outra das preocupações na PSP.
24 de Fevereiro 2005:
-Criminosos levam a melhor, polícia bate em retirada.
Cova da Moura sem lei. Os agentes da PSP que patrulham a Cova da Moura, na Buraca, arredores de Lisboa, evitam o interior do bairro, desde que, há uma semana, ali foi assassinado com 22 tiros o polícia Ireneu Diniz. A Polícia apenas avança para o coração do bairro em casos de emergência e, mesmo assim, com reforços e redobrados cuidados. Nenhum agente está autorizado a andar sozinho pelas ruas da Cova da Moura.
- Polícia consegue uma pequena vitória...
Ainda no domingo, na Rua Principal daquele bairro, dois agentes da esquadra de Alfragide que seguiam num carro-patrulha, foram agredidos por um grupo entre os 18 e os 20 anos. Só a pronta chegada de reforços, com equipamento antimotim, permitiu a detenção de oito homens que foram levados para a esquadra de Alfragide.
- ... mas numa contra-ofensiva, os criminosos quase tomam de assalto uma esquadra da polícia.
Uma multidão de cerca de 50 pessoas tentou, no domingo, invadir a esquadra de Alfragide para libertar oito jovens detidos no bairro. Só reforços conseguiram evitar o pior.
6 de Março de 2005:
- Criminosos levam vantagem.
Polícia não manda aqui. Fazem lembrar territórios sem lei, onde mandam os senhores do crime que trazem em pânico moradores que ainda resistem à margina-lidade. Às portas das grandes cidades cresceram bairros sem ordem. A polícia, como está visto, não consegue impor segurança.
A Quinta do Mocho é um dos bairros da Grande Lisboa mais marcado pelo crime, pela delinquência juvenil, pelo tráfico de droga, pela miséria.
Exemplo disso é a conhecida rivalidade com gangs concorrentes da Quinta da Fonte, o bairro vizinho e igualmente perigoso. Os tiroteios são frequentes e muitas são igualmente as vezes que dão entrada nos hospitais adultos e crianças com ferimentos de bala.
Mas o conflito urbano nos arredores da capital não se resume a estes dois bairros. A Cova da Moura, por exemplo onde a 17 de Fevereiro foi brutalmente assassinado o agente Ireneu, com 22 tiros, enquanto realizava uma patrulha de rotina no bairro , é actualmente o mais conhecido de todos (pelos piores motivos) e, aparentemente, o mais temido pela polícia.
E há mais. Bairro do Zambujal, em Alfragide, Bairro 6 de Maio, na Damaia, Bairro Estrela de África, na Venda Nova e Zona J de Chelas, por exemplo, são outros que trazem problemas à polícia.
7 de Março de 2005:
- Terror no hipermercado
Em pouco mais de meia hora, sete assaltantes, divididos por dois carros, atacaram à mão armada um hipermercado com clientes lá dentro e duas bombas de gasolina, no concelho de Sintra. Foram perseguidos pelas autoridades, pela Estrada do Autódromo e pelo IC 19, até ao Bairro da Cova da Moura onde desapareceram na noite.
Os assaltantes chegaram em dois carros (um Wolkswagen Bora e um Fiat Punto, ambos roubados) ao parque de estacionamento do Lidl, no Cacém, cerca das 21h00. Quatro deles, rápidos como felinos, armados de caçadeira e pistolas, entraram no hipermercado. Os 15 clientes que ainda se encontravam lá dentro gelaram de terror. De armas em punho, os salteadores, todos de origem africana e aparentando idades entre os 18 e os 25 anos, vociferaram ameaças de morte.
O primeiro a ser roubado foi o segurança da loja: arrancaram-lhe do dedo um anel de ouro. Um dos assaltes voltou-se para uma cliente e com um safanão roubou-lhe a mala. Todos os que se encontravam no interior do Lidl gelaram de pavor.
Os depoimentos das vítimas permitiram, primeiro à PSP e à GNR, e depois à Polícia Judiciária, perceber que o grupo de sete assaltantes estará bem armado. Para além de uma espingarda caçadeira, de canos serrados, os meliantes usaram nos três assaltos uma pistola automática, de calibre 9 milímetros. Ambas as armas são, por lei, de uso restrito às autoridades policiais e forças armadas.
8 de Março de 2005:
- Crime e violência sem fim na Cova da Moura.
Crime e violência sem fim. A madrugada de ontem deixou mais três feridos a tiro na Cova da Moura, Amadora. Os responsáveis são os mesmos que, na véspera, assaltaram o Lidl. Descrito como um albergue de evadidos, o bairro é o refúgio ideal e cada vez mais procurado pelos fugidos à Justiça.
A violência no Bairro da Cova da Moura, na Amadora, fez na madrugada de ontem mais três vítimas inocentes. A intenção era assaltar o café da Associação Cultural e Recreativa da Cova da Moura, mas a resistência por parte dos funcionários acabou em tiroteio. Resultado: uma mulher e dois homens atingidos a tiro.
Portugal tem um Triângulo das Bermudas onde os criminosos desaparecem da Polícia para não mais serem vistos. Fica às portas de Lisboa e chama-se Cova da Moura.
21 de Março de 2005:
Criminosos fazem mais duas baixas entre a polícia.
O carro-patrulha com os agentes Abrantes, Alves e Pereira saiu da esquadra da PSP da Mina, Amadora, pouco depois da 01h00 de ontem. A missão era a mesma de sempre. Patrulhar as ruas da cidade. Mas o desfecho foi assinado a sangue. O indivíduo que procuraram identificar junto a um bar, nas imediações do Bairro de Santa Filomena, sacou de uma pistola e assassinou, a sangue-frio, Abrantes, de 30 anos, e Alves, de 23.
O autor dos disparos, na casa dos 30 anos, é um indivíduo que já estava a ser procurado por homicídio. O crime, ao que o CM apurou, foi praticado em 14 de Janeiro último, no Porto.
22 de Março de 2005:
-180 operacionais da polícia apoiados por forças especiais tomam de assalto a Cova da Moura. Bino é capturado.
A operação Cerco Maior, nome de código dado à acção policial de ontem, começou a ser preparada no final da passada semana pela polícia Judiciária.
Avançou, primeiro, uma equipa de assalto do Grupo de Operações Especiais da PSP (GOE) e, logo atrás, inspectores da Polícia Judiciária. Eram 06h30. Lino, conhecido como Bechona, de 20 anos, foi apanhado a dormir. Com ele, estavam mais três todos menores, entre eles, o irmão. A ficha policial de Lino, o Bechona, obrigava a redobrados cuidados de segurança. É um hábil atirador e as armas de fogo não têm segredos para ele. Sempre viveu na Cova da Moura. Os pais são cabo-verdianos e ele nasceu em Portugal. Nunca foi condenado, mas está referenciado por, roubos, assaltos à mão armada e tráfico de droga.