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politicaxix

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23.Mai.05

Testemunho de uma ex-bloquista

Este é o testemunho, narrado na primeira pessoa, de alguém que conheceu o Bloco de Esquerda por dentro.

"O meu testemunho de ex-bloquista

O que me levou a militar no BE - agora que já passou um tempo desde a minha
saída e tentando recordar os factos a frio - foi aquela ideia do País das
Maravilhas que esse partido consegue passar aos mais ingénuos, uma espécie
de eldorado que hoje entendo como brutalmente utópico e apenas vocacionado
para conduzir um País e um povo à miséria. Estava nos finais da
adolescência, início da idade adulta, via muita coisa mal (e continuo a
ver), entendia que devia intervir, tinha pessoas dessa cor nas minhas
relações, e voilá...fui bater à porta da sede do Bloco de Esquerda. Escusado
será dizer que na minha santa ingenuidade, achava que o socialismo era a
cura para os problemas da Humanidade, ideia que com o tempo que lá estive,
com as opiniões a favor e contrárias que fui ouvindo e a literatura que fui
lendo, e sobretudo com o TIPO de pessoas com quem trabalhei, tornou
inevitável a minha saída, e mesmo a minha demarcação da Esquerda, de toda a
Esquerda.
Diz o companheiro leon que "É um partido que aconselha às pessoas que antes
de se filiarem, participem nas reuniões para que não tomem decisões "ao
engano"." Só se foi consigo. A mim, não só não me convidaram a participar em
nada, como pediram logo os 25 euros de jóia, o qual eu me recusei a dar na
altura, por querer saber primeiro como se trabalhava lá. Primeira mentira. E
posso-lhe dizer com propriedade que a pessoa que me inscreveu não era
nenhuma novata, é uma pessoa já com bastantes raízes no BE.
Diz também este nosso companheiro que "Sempre foi um partido aberto que (ao
contrário dos outros) permite a participação de todos os cidadãos, sejam
eles militantes ou não, nas suas reuniões.". Tem razão, qualquer pessoa
entrava nas Assembleias de Jovens e nos debates. O pior era quando decidia
abrir a boca para falar e ia contra-corrente. Uma vez apareceu numa
Assembleia pela primeira vez um rapaz que se insurgiu contra o fim dos
numerus clausus que o BE defende para as faculdades, e se disse favorável às
prescrições. Estive lá eu, ninguém me contou: enquanto ele falava, havia
pessoas militantes do partido a rirem-se e a cortarem-lhe a palavra. Uma
falta de educação, de respeito...e de democracia!! Segunda mentira do
companheiro leon. Acredito que ele não tenha tido vontade de repetir a dose.
Mas isto não era só com os novatos. Mesmo entre os "pesos pesados" da malta
nova se cortava a palavra várias vezes e se ria enquanto alguém expunha os
pontos de vista. Fumava-se dentro das salas, era preciso pedir algo que
ditam as regras básicas da educação, como "não se importam de ir fumar lá
para fora?" para os fumadores saírem. Os de cigarros e os de charros,
entenda-se.
De resto, lembro-me de ter pago a assinatura anual do jornal, o "Esquerda" e
não o ter recebido, mesmo depois de já me ter queixado duas vezes. Lembro-me
de malta nova que nesta última convenção lá se conseguiu sentar na Mesa
Nacional ao lado do Dr. Louçã que andava sempre a pôr paninhos quentes mesmo
quando o Bloco não participou nalgo outrora tão imperioso como a
concentração nacional que houve contra a ocupação do Iraque. Isto,
entenda-se também, já depois de estarem lá sentados os 8 deputados...
Lembro-me ainda do Dr. Louçã no dia a seguir às eleições ter ido para um
jornal dizer que o sistema de rotatividade tinha acabado, ou melhor, que
podiam pôr por exemplo o Dr. João Semedo por nenhum dos que lá se sentaram
percebe grande coisa de questões de saúde, mas só nesses casos, quando
militantes com cotas pagas não faziam puta ideia que isso tinha acabado,
ninguém nos avisou, muito menos consultou.
Estes mimos, mais a falta de seriedade e de projectos com pés e cabeça que
vi no núcleo do BE onde participava, e que não vale a pena dizer aqui qual
era, desiludiram-me por completo. Em simultâneo, percebi que a Esquerda é
assim. Para mim é assim: utópica, pobre, irrealista. Não tem a ver comigo. E
como para grandes males, há grandes remédios, vim-me embora e aqui estou,
leve e livre.

Ju Judoca "


Obrigado Juliana, pelo teu testemunho sobre os momentos tenebrosos que viveste nessa organização.

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